VINTE E TRES ANOS SEM DR. ZERBINI

Em 23 de outubro de 1993, morria no InCor aquele que foi considerado o pai da cirurgia cardíaca brasileira.

Apos incansáveis 82 anos de dedicação a nobre arte da medicina, especialmente  a sinfonia executada em toda cirurgia cardíaca.

O coração é como a orquestra que tem de seguir um maestro muito rigoroso, não permite qualquer descanso ou descuido e apresenta sempre uma nova obra a cada batida. A música executada, não visualizada, penetra pelos poros e nos preenche com vida.

Dr. Zerbini

VINTE E TRES ANOS SEM DR. ZERBINI

Nasceu a 7 de maio de 1912 na cidade de Guaratinguetá, no Vale do Paraíba.

Foi o sexto filho (caçula) de Eugênio e Ernestina Zerbini.

Segundo palavras do próprio Zerbini, como não se sentia vocacionado para alguma carreira, foi o pai quem lhe sugeriu estudar Medicina.

Assim, de Campinas mudou-se para a casa de sua irmã, Eunice, em São Paulo, preparando- se para o difícil vestibular. E

m 1930, foi aprovado para uma das 50 vagas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), classificado entre os 10 primeiros colocados!

Naquele tempo, o coração ainda era uma ficção anatômica, que só podia ser visto ou tocado nas salas de autópsia.

Um menino de sete anos, de nome Disnei, foi recebido em situação crítica no Serviço de Emergência da Santa Casa, com um estilhaço metálico que lhe penetrara o precórdio.

Resolveram chamar o Dr. Zerbini que, como sempre, estava no hospital. O caso não era usual, e por isso consultaram seu mestre.

Decidiram operar o paciente! Tratava-se de ferimento cardíaco, envolvendo a artéria coronária descendente anterior, que foi ocluída na sutura.

O paciente sobreviveu ao procedimento e ao próprio cirurgião. Foi a primeira sutura, com sucesso, de um ferimento cardíaco no país, merecendo publicação internacional, no Journal of Cardiac Surgery, em 1943, com o título: “Coronary ligation in wounds of the heart”.

Foi também o primeiro procedimento sobre o coração desse pioneiro da Cirurgia Cardíaca da América Latina.

Fundada em 1969, a SBCCV teve o Prof. Zerbini como seu primeiro presidente. Ele esteve no cargo por 15 anos, oferecendo seu trabalho e dedicação até que a associação ficasse forte e pudesse evoluir sob o comando de novas lideranças. Isso demonstra o espírito do mestre, que sempre apoiou a atividade associativa, fazendo dela um elemento de congraçamento dos colegas e de desenvolvimento da especialidade.A partir de janeiro de 1968, alguns centros mundiais passaram a realizar transplantes de coração.

A equipe chefiada pelo Prof. Zerbini realizaria o primeiro transplante em 26 de maio de 1968, ou seja, pouco mais de cinco meses após o transplante histórico na África do Sul.               

Em 1969, finalizado o concurso, ele se tornava Prof. Titular de Clínica Cirúrgica da FMUSP (Figura 9).

Nesse mesmo ano de 1969, o Prof. Zerbini foi convidado como o primeiro brasileiro a receber o Título de “Honored Guest of American Association of Thoracic Surgery (AATS)”, apresentando a “Honored Guest Conference: The surgical treatment of Fallot complex: late results”.

Talvez o maior de todos esses legados tenha sido a formação de discípulos. Estima-se que mais de 400 cirurgiões devam sua formação ao Prof. Zerbini.

Eles vieram de todo o Brasil, da Hispano-América, desde o México até a América do Sul, e de outros países, como Portugal, Espanha, Índia e até do Japão.

Em meio a essa intensa atividade profissional, ocorreu-lhe um quadro neurológico e o diagnóstico de um tumor cerebral. Foi operado e verificou-se tratar de metástase de melanoma cutâneo. Após sessões de quimio e radio partiu no dia 23 de outubro de 1993.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *